quarta-feira, agosto 20, 2014

Back in Black

Escrever era um hábito comum para mim, sempre gostei e ainda sou viciado leitura, e me expressar com a palavra escrita foi um passo quase que natural. Como qualquer um tudo começou na escola e quado tive acesso à internet (essa ferramenta maravilhosa!) criei meu primeiro blog o falecido "que que é isso meu", que pra falar a verdade era uma porcaria.
Com a chegada do blogspot ao Brasil, eu criei o Nave Caiu, que passou por diversas fases. Já foi um diário, uma coletânea de crônicas, serviu de abrigo para minhas tentativas desastradas no universo da poesia, etc. Também apelei para a blogsfera durante meu TCC quando criei o Kaozmatron e aí a coisa ficou um pouco mais séria, lá eu lancei na rede os artigos que fizeram parte do meu trabalho e também serviu como um diário de bordo do processo todo.
Quando concluí o trabalho, simplesmente parei de escrever.
Mas hoje eu resolvi voltar.
Em princípio porque eu queria voltar a contribuir com essa inteligência coletiva que eu acredito que se forma na rede, mas outros motivos não tão nobres permeiam essa volta, eu tive uma epifania hoje no banheiro de um shopping center.
Sempre achei divertido ler aquilo que os outros escrevem nas portas dos banheiros públicos, palavrões, gente procurando sexo, louvores a Deus, a boa velha pixação aborrecente, desabafos de intolerância, e por aí vai... E naquele momento de clareza, que você só tem quando está sentado no vazo eu resolvi que se a internet é essa grande porta de banheiro, eu também quero rabiscar.

Agente se cruza por aí!

I'm back!
momento de epifania lendo merdas na porta do reservado


sábado, agosto 09, 2008

carta para um amigo

Faz um ano, desde a última vez que nos falamos. E não foi exatamente a conversa que eu gostaria de ter tido se eu soubesse que seria última. No momento em que eu aprendi a dizer "não", nossa relação nunca mais foi a mesma, não é mesmo chefia?!
Porque se tem uma das muitas coisas que herdei de vc xará, o gênio forte é uma delas. Só que diferente de você, eu sempre soube me controlar. Nesses dias, que estão perto do seu aniversário, eu te sinto muito presente. Nos ultimos tempos eu te achava careta e você me considerava um vagabundo.
eu lembro que vc tinha medo dos caminhos que eu escolhi, e nesse medo residiam todas as nossas brigas, pq todo pai quer o melhor para o seu filho, mas nem sempre aquilo q vc imagina como bom serve para outra pessoa, e o nosso problema era justamente esse. Eu fecho os olhos e quase te vejo ouvindo Raul, como vc costumava fazer perto de datas importantes, e como agora é hábito meu. Mas hj, bem... eu não tenho essa coragem. A unica coisa que consegui fazer foi tomar uma dose de uísque, e ficar olhando fixamente para o cinzeiro na sala.
Sabe chegado, bateu uma saudade daqueles tempos em que agente vivia com uma mào na frente e outra atrás, dos passeios de trem e de metrô, de andar de carro na paulista e de descer a augusta ouvindo as suas histórias, sentindo uma inveja por nào ter vivido ainda tudo aquilo que vc viveu.
Me peguei esses dias rindo como vc ria, e minha voz no telefone, é igualzinnha a sua. Achei uma foto nossa, eu ainda usava fraldas e vc tava me dizendo alguma coisa, baixinho, ao pé do ouvido. Que será que vc me disse? Que tipo de promessa de uma vida maravilhosa vc me fez naquele dia?
Pouco importa, o que interessa é que nossa história nunca foi fácil, e as pedras do caminho só serviram pra deixar as solas do meus pés grossas, feito pneu, fiquei cascudo, as vezes até duro demais, mas tudo que nós fomos, tudo que vivemos me carregam de orgulho. Sinto sua falta. espero que do além, vc possa ler essa carta.

E aos meus amigos um conselho, abracem seus pais amanhã, aproveitem pq o tempo é curto, pq depois... numtem mais volta.

terça-feira, agosto 05, 2008

Estrada para o Inferno - parte 1 - Chuva

"O homem é o lobo do homem." - Hobbes

A chuva que cai ensopa o meu terno caro, nas ruas da Avenida Paulista as pessoas circulam sem olhar nos olhos uma das outras, um hippie fedorento guarda seus trabalhos, eu posso ver os seios daquela morena de camisa branca. Queria que a chuva lavasse os meus pecados, mas isso é impossível em São Paulo, se fosse há alguns anos, poderia se dizer que a chuva é uma das águas mais limpas, mas nào nessa selva de pedra. Aqui chove enchofre, igualzinho ao inferno.
Há 10 anos, eu não pensava assim. Chovia na Lapa de Baixo, eu desci do trem ansioso, um ano de estudo, um concurso público concorrido, seis meses de treinamento de elite, as melhores notas, agente da polícia federal... a felicidade era tanta que o fedor do mercado municipal e as ruas abarrotadas de camelôs não me incomodavam.
Chegando na Superintendencia Regional da Policia Federal, fui encaminhado para a Diretoria de Combate ao Crime Organizado (DCCOr), deveria conversar com o Delegado Jaques Luba e fora isso não sabia de mais nada. O nervosismo, a ansiedade, e meio maço de cigarros depois, sou chamado.
Eu acreditava no sistema. E apurar as irregularidades nos três poderes, vigiar, punir, era o sonho de uma criança viciada em filmes noir realizado. Que tipo de idiota as portas do século XXI ainda acredita no pacto social? Bem, eu acreditava e estava pronto pra ser um novo defensor do sistema.
Na sala do Jaques, milhares de papéis e cheiro de cigarros misturados com um aromatizador barato, na minha frente dois sujeitos, um cara gordo, de olhos azuis e profundos, sorriso simples, pele avermelhada, cara de polonês, bonachão, se tivesse barba poderia ser o papai noel, mas por trás da aparência risonha, um olhar que analisava tudo a fundo, como se pudesse enxergar o seu caráter, antes mesmo que vc fosse capaz de pronunciar uma palavra, essa foi a minha primeira impressão do Luba. Em pé ao seu lado, com uma pasta na mão, um sujeito magro, altivo, ligado no 220, boca suja, compulsivo, me olhava como se eu fosse algum tipo de animal, bufava bastante, e mesmo que fizesse frio naquela tarde, suava bastante.
Sentado na frente dos dois, aquele seria o primeiro dia, de um inferno que nem em meus piores pesadelos, eu poderia imaginar...


continua...

quinta-feira, dezembro 20, 2007

e ele partiu, todo de branco

Ele nunca foi adepto das despedidas, tudo era tempestuso, intenso, com ele os meio-termos eram dispensáveis. Nunca esquecerei o fogo dos seus olhos, o abraço terno, o sorriso disfarçado, a gargalhada que assustava. Um cigarro atrás do outro, como quem consome desesperadamente cada gota da vida. As roupas caras, o perfumes, a postura altiva apesar do corpo frágil.
Bebeu da vida como poucos, tenho inveja das suas aventuras. Me ensinou tudo de bom e também tudo aquilo que não presta, meu herói, meu arqui-rival. O maior guerreiro que já vi.
Foi embora num instante, como quem pega uns trocados e vai até a padaria comprar cigarros e tomar café, justamente quando eu tinha certeza que última viagem seria adiada mais uma vez. Ajudei-o a fazer as malas, velei seu sono induzido e olhei bem fundo nos olhos que me criaram e em silêncio agradeci por tudo, e hoje eu sei que ele me entendeu.
A medicina é estranha, é uma luta contra o inevitável, disseram q eu podia ir, que ele ia me esperar, mas não deu. Quando eu voltei, a cama vazia, os cinzeiros limpos e o copo de uisque guardado ármário. Chorei feito criança, da mesma maneira em que chorava no seu colo quando eu era criança, mas dessa vez eu não pude deitar no seu peito e te chamar de meu chegado, meu xará...
Fechei a tampa da urna, e o carreguei, com lágrimas e uma dor que parecia que não ia suportar. Os bons e maus momentos na memória, lições de garra, de dor e de honra. Noites mais tarde eu tive um sonho, voltava pra casa da minha infância e me disseram que ele tinha ido viajar, corri para o nosso esconderijo, a montanha onde conversarvamos sobre o mundo, no tempo em que o careta era eu, lá eu o achei, todo de branco, subindo num elevador, corri para as escadas, ele me sentiu, desceu do elevador, pegou em minha mão e eu fui criança, o adulto que sou e o velho que serei naquele caminho. Me advertiu denovo de que a vida era bela e a estrada era dura. Disse que à partir deste dia estaria comigo em todos os momentos, no meu andar desengonçado, no meu jeito de bagunçar o cabelo quando estou nervoso, numa música qualquer do Raul e que nós estamos ligados eternamente em nossa energia, porque eu sou ele em um outro devir, em um outro tempo e que agora era comigo, que a sua parte estava feita e ele precisava descansar.
Meu pai me disse boa sorte. No sonho e no leito do hospital, a ultima vez em que nos olhamos não sai da minha mente.
Agora fito o céu, ouço a música e sinto saudades, mesmo sabendo o quanto ele está próximo. Como todo bravo, ele vive pra sempre. Na minha memória, no meu sangue. E de branco ele partiu, deixando em mim o seu legado, a história de quem conquistou o mundo, perdeu, sacudiu a poeira e ganhou tudo denovo, quando todo mundo duvidava e num momento em que qualquer um desistiria.
E ele partiu, do pó ao pó como dizem... de branco como queria, para finalmente se juntar as estrelas e cuidar de mim como sempre cuidou.

Peito de aço e coração de bronze, agente se vê um dia.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

baboseiras de começo de ano

A chuva lava o asfalto, mas mesmo com a umidade, faz calor. A fumaça, os carros, o cinza típico do lugar onde eu nasci. Não faz nem duas semanas que estou aqui e uma vontade enorme de voltar para o lugar onde eu tenho vivido.
Como todo mundo, chega essa época do ano eu tento fazer um balanço, e apenas uma palavra me vem a mente: caramba. Nessa semana de tédio e chuva fiz dois bons amigos. H. Humbert e Dorian Gray, pensei muito sobre a vida, pensei sobre a arte, também me apaixonei por uma certa Dolores Haze e me vi envolvido pelos belos discursos de um dandi chamado Harry, foi triste me despedir deles.
O barulho dos carros não me deixa ouvir meus pensamentos, algumas imagens emergem na lembrança, as mesmas promessas que todos fazem, aquele otimismo que chega soar falso e pedante. Não que eu não tenha esperanças, mas é que eu fico irritado ao ouvir todas aquelas promessas tolas, de q podemos tornar-nos pessoas melhores no ao que vem, mas isso sempre fica pra um futuro que não chega.
Prefiro não criar esperanças, aliás o pior dos demônios libertados por Pandora. Um dia de cada vez, uma batalha por dia, uma madrugada apaixonada de cada vez, saborear a taça de vinho sem pensar na próxima...

quinta-feira, dezembro 07, 2006

vi sátiros dançando com suas luzes coloridas, anoitecia no bosque em uma tarde cinzenta. as ninfas dançavam com suas liras e um centauro arqueiro lançava flechas de fogos coloridos. a bruma cobria a magia do lugar, a fumaça dançava. risos. músicas. em um apartamento, lábios se tocavam, a inocência do mamilo sob a luz da rua q invadia o quarto escuro. risos. música.
a fumaça do cigarro seguia a luz pálida da lâmpada, e gotas de água rodeavam o copo de cerveja. vozes felizes. delírios etílicos. risos. música. o riacho entoava belas poesias, e olhos irriquietos me convidavam para um mergulho. risos. músicas.
a saia rodava, branca, tingida pelo vermelho da fogueira. palmas, vinho e canções. risos. músicas.
a bicicleta corta o ar da noite, a fumaça dos carros, businas, faróis altos. em minha mente. risos. música. amigos q partem, sonhos novos na próxima esquina. um gaitista. blues. vozes. risos. música. vida.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

its all over now, baby blue...

A chuva cai indiferente, céu cinzento, sol encoberto. As gotas d'água castigam meus olhos, enquanto as rodas da bicicleta levantam jatos no asfalto que molham a minha bermuda. A brisa fria tenta clarear minha visão, mas uma nuvem chata não quer ir embora.
Sinto falta das tardes ensolaradas, e não faz nem uma hora que elas se encerraram. Penso que o céu reflete meu estado, numa tentativa de levar poesia ao trivial, pra mim que transito entre as coisas, e mudo a toda a hora, a transitoriedade das coisas deveria ser normal, mas ir embora... é sempre uma droga.
Um soldado sempre sonha com um lar pra voltar, cartas de amor, beijos de namorada e uma festa para quando voltar, este já havia se acostumado a não ter isso, fazia da sua cruzada uma busca cega e solitária. Achava que a solidão me caia bem, um ar de um jovem torturado, fonte de inspiração para as minhas mimesis, do que seria a vida...
Bem... a estrada é para mim, o jogo é a minha própria calhordice, coragem e preguiça se degladeiam, e os resultados... imprevisíveis...
Passo por uma praça, vejo gente se amando na chuva, penso no que poderia ser, nos campos, uma tenda, um copo de vinho, meus dez mil anos de estrada, e em versos cantados há muito tempo por um sábio heremita...
No momento em que parti, senti uma vontade imensa de voltar, a cada pedalada, a cada gota de chuva...
Meus soldados abandonaram as armas, os caídos não levantam do caldeirão, e não escuto mais a minha gargalhada na floresta. Desenho algumas maluquices em meu lençol desbotado e risco outro fósforo. Pq não tem mais nada, negro amor...


its all over now, baby blue...
Bob Dylan


You must leave now take what you need you think will last
But whatever you wish to keep you better grab it fast

Yonder stands your orphan with his gun

Crying like a fire in the sun.

Look out the Saints are comin'through

And it's all over now, Baby Blue.

The highway is for gamblers, better use your sense

Take what you have gathered from coincidence

The empty handed painter from your streets

Is drawing crazy patterns on your sheets

This sky too, is falling under you

And it's all over now, Baby Blue

All your seasick sailors, they are rowing home
All your reindeer armies, are all going home

The lover who just walked out your door

Has taken all his blankets from the floor

The carpet too, is moving under you

And it's all over now, Baby Blue.

Leave your stepping stone behind, something calls for you
Forget the dead you've left, they will not follow you

The vagabond who's rapping at your door

Is standing in the clothes that you once wore

Strike another match, go start a new

And it's all over now, Baby Blue.